Pacto Global da ONU lança relatório sobre desperdício de água em redes de distribuição do Brasil
Em 2015, 182 bilhões de litros de água foram perdidos em vazamentos, fraudes, roubos ou problemas de medição nos 74 municípios banhados pelas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. O número é de um levantamento divulgado nesta semana (7) pelo Movimento Menos Perdas, Mais Água – iniciativa criada pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU. Volume desperdiçado seria suficiente para abastecer 2,7 milhões de pessoas.
Em 2015, 182 bilhões de litros de água foram perdidos em vazamentos, fraudes, roubos ou problemas de medição nos 74 municípios banhados pelas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. O número é de um levantamento divulgado nesta semana (7) pelo Movimento Menos Perdas, Mais Água – iniciativa criada pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU. Volume desperdiçado seria suficiente para abastecer 2,7 milhões de pessoas.
Lançado durante as atividades da Semana do Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o relatório lembra que as bacias dos três cursos fluviais atravessam 74 municípios — cinco em Minas Gerais e 69 em São Paulo. Juntas, cidades têm uma população de 5,6 milhões de moradores. A região das bacias PCJ responde por 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
Segundo Alceu Galvão — pesquisador do instituto responsável pela elaboração do estudo, o Trata Brasil — a média das perdas no sistema de distribuição do país, em 2015, foi de 36,7%, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) do Ministério das Cidades.
O especialista explicou que, acompanhando os indicadores do SNIS nos últimos anos, é possível observar que o Brasil (36,7%), a região Sudeste (32,9%) e o estado de São Paulo (33,5%) têm avançado no combate às perdas de água, já que atingiram em 2015 índices próximos à meta estipulada para 2018. Entretanto, os municípios das bacias PCJ, com média de 37,2%, não acompanharam essa tendência.
Também presente no lançamento da pesquisa, o presidente-executivo do Trata Brasil, Edson Carlos, apresentou um panorama da crise hídrica entre 2012 e 2017, ressaltando que houve um aumento da demanda de água nas cidades e pelo setor agrícola, ao mesmo tempo em que houve uma estagnação do volume das reservas do recurso. Outro problema foi a falta de chuva, especialmente no Nordeste.
“Os números só não são piores porque houve investimentos de infraestrutura em segurança hídrica. No entanto, ainda temos 50% da população brasileira sem coleta de esgoto e 34 milhões de pessoas sem acesso à água tratada, o que gera uma grande pressão sobre recursos hídricos”, alertou.
Para o superintendente de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), Sérgio Ayrimoraes Soares, é necessário implementar políticas de controle do uso da água. O dirigente lembrou que, para a renovação em maio da outorga do Sistema Cantareira – do qual faz parte a bacia do PCJ –, uma resolução da ANA determinou a redução da média mensal de retirada de água. “Com isso, o uso será reduzido para 56% do sistema”, disse.
Meta nacional
No final de 2013, a Presidência da República do Brasil promulgou o Plano Nacional de Saneamento de Básico (PLANSAB). A estratégia tem como meta a redução da média nacional de perdas nos sistemas de distribuição para 31% até 2033.
Alceu Galvão afirmou que já existem números sobre os volumes e os custos de produção de água que poderão ser economizados pelos municípios a partir da redução dos atuais índices de desperdício. Em um cenário factível, a diminuição dos índices de perdas na distribuição chegaria a 30%.
“O volume a ser economizado seria de 63 milhões de metros cúbicos por ano (63 bilhões de litros), o que representa uma economia anual de 104 milhões de reais”, afirmou.
O estudo da Rede Brasil do Pacto Global aponta ainda que, em todos os cenários traçados, a demanda futura de água nas bacias PCJ tende a ser superior à disponibilidade hídrica até 2035. Na simulação para esse ano, que estima em 25% a redução de perdas em todos os municípios, bem como uma queda da demanda para a irrigação, os números mostram que a demanda total de água estimada para as bacias PCJ superaria em 22% a disponibilidade atual.
Outras medidas
O estudo conclui que, apesar dos volumes de água significativos que poderão ser economizados com programas de redução e controle de perdas, o déficit hídrico estimado pelo Plano de Bacias não será superado apenas com iniciativas desse tipo.
Esses programas devem estar associados ao planejamento e à implementação de outras ações que busquem o aumento da oferta de água — como o crescimento dos índices de tratamento de esgotos dos municípios, a utilização da água de reuso e a redução dos consumos per capita. O levantamento também recomenda a criação de projetos de gestão operacional periódica nos sistemas de abastecimento.
“Precisamos migrar para uma sociedade que consuma menos água e que possamos cumprir o nosso papel de usá-la de forma racional, o que vai ao encontro da segurança hídrica no Brasil. As perdas nos sistemas de distribuição são grandes e contribuem para isso. Portanto, é preciso chegar a um controle de perdas a um nível satisfatório. Trata-se de uma questão complexa, mas precisamos seguir em frente”, afirmou a secretária adjunta de Saneamento e Recursos Hídricos do estado de São Paulo, Mônica Porto.
Acesse o sumário executivo do relatório Perdas de água nos sistemas de distribuição como agravante à vulnerabilidade das bacias hidrográficas – o caso das bacias PCJ” clicando aqui. Documento foi elaborado em parceria com a Reinfra Consultoria.
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